Segurança do Palmeiras apresenta novo parecer e reitera que Marcondes o chamou de 'macaco velho'
Defesa afirma que argumentos de parecer contratado “jogam uma pá de cal sobre as errôneas conclusões da perícia oficial”, que apontou que termo usado foi “paca véa”

O segurança do Palmeiras Adilson Antonio de Oliveira contestou nesta quinta-feira, 17, laudo complementar elaborado pelo Instituto de Criminalística de São Paulo, que reafirmou que o vice-prefeito de Rio Preto, Fábio Marcondes (PL), e também secretário de Obras, teria dito “paka vea” e não “macaco velho” em confusão registrada em fevereiro.
O laudo complementar, com análise fonética da discussão registrada por uma equipe da TV Tem, foi anexado ao inquérito no dia 18 de julho. O primeiro laudo oficial havia sido apresentado em maio. No mesmo mês, o segurança do Palmeiras contestou, com parecer contratado pela defesa. No parecer foi anexado agora ao inquérito.
O segurança registrou a queixa na polícia após a partida entre Mirassol e Palmeiras, em fevereiro, pelo Campeonato Paulista. O inquérito apura suposta injúria racial que teria sido cometida pelo vice. Marcondes nega que tenha usado palavras de cunho racial contra o segurança. A partida foi realizada em Mirassol.
O parecer técnico sobre esclarecimentos de laudo fonético foi contratado pela defesa do segurança, a cargo do advogado Euro Filho. O novo estudo foi realizado pela LCX Inteligência em Perícias, que tem sede em Curitiba.
Perplexo
Em petição protocolada na quinta, o segurança classifica a conclusão da perícia como “estapafúrdia”, afirma estar “perplexo” e questiona o laudo oficial. “No caso destes autos, por mais que os laudos oficiais tenham trazido conclusões absolutamente alheias à realidade, é fácil constatar, a partir da simples escuta atenta dos vídeos periciados, que o averiguado efetivamente pronunciou as palavras 'macaco velho', dirigindo-as ao Requerente, com claras conotações injuriosa e preconceituosa”, afirma o advogado Euro Bento na petição.
Para a defesa, os argumentos agora apresentados “jogam uma pá de cal sobre as errôneas conclusões da perícia oficial”.
Parecer
O parecer, que tem 16 páginas, argumenta que a palavra em análise tem três sílabas. “A palavra 'pakako' não existe em português, o que se trata de uma distorção de 'macaco'.”
O documento cita que a transcrição fonética adotada na perícia do Instituto de Criminalística “não registra todas as nuances e variações fonoacústicas, mas sim os segmentos que alteram o significado de uma palavra”.
O argumento apontado para defender a tese de que o termo utilizado foi “macaco velho” leva em conta as reações após a fala de Marcondes. “Também é muito relevante colocar a palavra no contexto linguístico, e, nos casos em que há sincronicidade com registro de imagens, as reações dos personagens se fazem imprescindíveis. E, como já demonstramos no trabalho anterior, a palavra proferida gerou reações imediatas de mais de uma personagem, que tiveram a mesma percepção de ofensa, e cuja palavra /paka/ não resultaria na reação imediata que ali ocorrera.”
Em outro trecho, o parecer menciona que “a inteligência de interpretação auditiva humana, especialmente em ambientes complexos, ainda é muito significativamente superior à maioria dos programas, softwares e analisadores espectrográficos disponíveis”.
Na conclusão afirma que "muito embora entendamos e aqui trouxemos nossos resultados que apoiam a formante nasal que justifica a transcrição /macaco/ em vez de /paka/ , não se pode deixar de interpretar o que o ouvido comum ouve ao escutar o registro audiovisual ora estudado, tampouco a reação dos personagens presente no episódio, e todos os valores aqui conjugados reforçam a compreensão de ocorrência de ofensa suspeita de injuria racial", consta, ainda, no parecer contratado pela defesa do segurança do Palmeiras.
O caso
A confusão foi registrada por uma equipe da TV Tem. No vídeo, Marcondes chama o segurança de “lixo” por repetidas vezes. Posteriormente, teria dito “macaco velho”. O primeiro laudo do Instituto de Criminalística, solicitado pelo delegado Renato Camacho, que conduz a apuração, apontou que a expressão fonética usada na discussão seria “paka”.
O delegado requisitou um laudo complementar ao Instituto de Criminalística. A perícia complementar descartou que a palavra dita ao segurança fosse “macaco”.
“Com base nos parâmetros acústicos analisados e na comparação intrafalante, não se sustenta a hipótese de que a palavra proferida pelo locutor, apontado como de interesse para esta análise, seja 'macaco', uma vez que não há registro da sílaba inicial [ma], tampouco da desinência final masculina, como se alega", apontou a perícia requisitada pela Polícia Civil.
Defesa
Em depoimento à polícia, Marcondes disse que agiu em defesa de seu filho, que teria sido agredido pelo segurança. Afirma ainda que os xingamentos foram direcionados ao time Palmeiras, e não a membros da comissão ou ao segurança. No depoimento, Marcondes afirmou que, por orientação de seu advogado, ele não iria comentar o laudo elaborado pelo Instituto de Criminalística de São Paulo.
Parcial
Em nota encaminhada à reportagem, o advogado de Marcondes afirma que o parecer anexado pela defesa do segurança é "parcial e desprovido de isenção".
Leia a nota na íntegra
"O escritório Barreto Advocacia Criminal, por meio de seu sócio fundador Edlênio Xavier Barreto, responsável pela defesa de Fábio Ferreira Dias Marcondes, informa que o laudo particular apresentado nesta data (17/07) pelos advogados vinculados à Sociedade Esportiva Palmeiras, assim como o anterior, revela-se parcial e desprovido de isenção técnica.
Contudo, em respeito à coerência da atuação, pautada pela prudência, responsabilidade e compromisso com a verdade dos fatos, a defesa esclarece que se manifestará de forma técnica, formal e detalhada nos autos do inquérito, no momento processual oportuno."